A máquina quer nos matar: um alerta contra a dependência tecnológica

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A humanidade está rapidamente a ficar enredada numa teia tecnológica da sua própria criação, um sistema tão difundido que a fuga parece cada vez mais impossível. Não se trata apenas de conveniência ou progresso; trata-se de uma mudança fundamental na nossa relação com a natureza, connosco próprios e com a própria definição do que significa ser humano. A questão não é se a tecnologia é boa ou má, mas se estamos caminhando sonâmbulos para um futuro onde a nossa autonomia está desgastada, a nossa ligação ao mundo natural cortada e a nossa própria humanidade diminuída.

A erosão da autonomia

Paul Kingsnorth, autor de “Contra a Máquina: Sobre a Desconstrução da Humanidade”, argumenta que nos tornámos engrenagens de um sistema maior, uma “máquina” que não é apenas telefones e ecrãs, mas uma força industrial, económica e cultural centenária que nos separou sistematicamente das nossas raízes. Este não é um fenômeno novo; escritores alertaram para esta tendência desumanizadora desde o início da Revolução Industrial. A iteração moderna, contudo, é muito mais insidiosa, operando a uma velocidade e escala que deixa pouco espaço para resistência.

A própria vida de Kingsnorth reflete essa luta. Ele e a sua família retiraram-se para a zona rural da Irlanda há mais de uma década, procurando escapar às garras implacáveis ​​da máquina, educando os filhos em casa, cultivando a sua própria comida e desligando-se das constantes exigências da vida digital. Este não foi um ato de ludismo, mas uma tentativa deliberada de recuperar a agência, de viver uma vida enraizada num lugar e num propósito, em vez de ser ditada por algoritmos e pelo consumismo.

A guerra contra a natureza

A consequência mais devastadora da máquina é o seu ataque implacável ao mundo natural. As alterações climáticas, a extinção em massa e o colapso ecológico não são acidentes; são os resultados inevitáveis ​​de um sistema que vê a natureza como um recurso a ser explorado e não como uma entidade sagrada a ser reverenciada. O movimento verde, ironicamente, tornou-se cúmplice desta destruição, abraçando “soluções” tecnológicas como carros eléctricos e energias renováveis ​​que apenas sustentam o crescimento da máquina em vez de resolverem as suas falhas fundamentais.

Kingsnorth argumenta que a verdadeira sustentabilidade não consiste em substituir combustíveis fósseis por painéis solares; trata-se de desmantelar a lógica industrial que impulsiona a devastação ecológica. Isto requer uma mudança radical de valores, uma rejeição da busca incessante de crescimento e eficiência que nos levou à beira do colapso.

A crise espiritual

O efeito mais sutil, porém profundo, da máquina é a erosão do espírito humano. A estimulação constante, as distrações intermináveis, a pressão implacável para nos conformarmos… estas forças entorpecem a nossa capacidade de admiração, de contemplação, de ligação genuína. A ascensão da realidade virtual, da inteligência artificial e das fantasias transumanistas… estas não são soluções para os nossos problemas, mas sintomas de um mal-estar mais profundo: uma perda de fé em algo que está além de nós mesmos.

A própria jornada espiritual de Kingsnorth – do Zen Budismo à Wicca e ao Cristianismo Ortodoxo – reflecte uma procura de significado num mundo cada vez mais desprovido dele. Ele argumenta que a fé cristã, com a sua ênfase na humildade, no sacrifício e na transcendência, oferece um antídoto poderoso para a lógica desumanizadora da máquina.

O colapso inevitável?

A questão não é se a máquina entrará em colapso, mas como. Sucumbirá aos limites ecológicos, às crises económicas ou à agitação social? Ou simplesmente evoluirá, tornando-se mais eficiente, mais difundido, mais inevitável? Kingsnorth não oferece respostas fáceis, mas insiste que devemos confrontar a verdade: vivemos num tempo emprestado e a única forma de sobreviver é recuperar a nossa humanidade, reconectar-nos com a natureza e redescobrir o sagrado num mundo que há muito o esqueceu.

A máquina quer nos matar, não por maldade, mas por indiferença. Não se preocupa com as nossas almas, com as nossas florestas ou com o nosso futuro. Ele só se preocupa com crescimento, eficiência e controle. A única maneira de resistir é recusar-se a participar, a viver uma vida com propósito e lembrar que não somos engrenagens de uma máquina, mas criaturas maravilhosas, capazes de amor, beleza e transcendência.